





O funkeiro MC Poze do Rodo, nome artístico de Marlon Brendon Coelho Couto, deve deixar a cadeia a qualquer momento. Nesta segunda-feira (2), a Justiça do Rio concedeu habeas corpus ao cantor, preso na última semana por suspeitas de apologia ao crime e associação com o tráfico de drogas. A decisão revoga a prisão temporária e impõe medidas cautelares ao artista. 213m4g
A prisão de Poze ocorreu no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste da capital, por agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). As investigações alegam que o artista se apresenta frequentemente em comunidades controladas pelo Comando Vermelho, com forte presença de criminosos armados, e que suas músicas fariam apologia ao tráfico de drogas e ao uso de armas.
Segundo a Polícia Civil, esses eventos seriam utilizados estrategicamente para impulsionar o tráfico, fortalecer financeiramente a facção e intimidar comunidades rivais. Em nota, a instituição afirmou que "as letras extrapolam os limites constitucionais da liberdade de expressão", alegando incitação ao crime.
O caso ganhou notoriedade após a circulação de vídeos de um baile funk na Cidade de Deus, no qual traficantes aparecem ostentando fuzis durante a apresentação do cantor. O evento teria ocorrido dias antes da morte de um policial civil em operação na mesma comunidade.
Detido desde o dia 29 de maio, Poze permanecia até a noite desta segunda no presídio Bangu 3, no Complexo de Gericinó, Zona Oeste do Rio. Segundo a decisão do desembargador Peterson Barroso Simão, da Segunda Câmara Criminal, a prisão de Poze não se sustentava juridicamente, já que a Polícia Civil não conseguiu demonstrar a “imprescindibilidade” da medida para o andamento da investigação.
Mais do que libertar o artista, o magistrado apontou falhas no processo de prisão. Em sua decisão, criticou a forma como a Polícia Civil conduziu a abordagem. “Há indícios que comprometem o procedimento regular da polícia. Pelo pouco que se sabe, o paciente teria sido algemado e tratado de forma desproporcional, com ampla exposição midiática, fato a ser apurado posteriormente”, escreveu Simão.
O desembargador também recordou que Poze já havia enfrentado um processo semelhante anteriormente — e foi absolvido tanto em primeira quanto em segunda instância. Ele ressaltou que o foco das ações policiais deveria estar nos chefes do tráfico, e não em figuras como Poze. “O alvo da prisão não deve ser o mais fraco – o paciente – e sim os comandantes de facção temerosa, abusada e violenta”, destacou.
A Justiça impôs uma série de medidas cautelares que devem ser cumpridas por Poze do Rodo a partir de agora:
- Comparecimento mensal em juízo até o dia 10 de cada mês;
- Proibição de deixar a comarca sem autorização judicial;
- Proibição de contato com investigados e membros do Comando Vermelho;
- Entrega do aporte à Justiça;
- Manutenção de endereço e telefone atualizados.
O advogado Fernando Henrique Cardoso Neves, que representa Poze, comemorou a decisão: “É uma decisão serena que restabelece a liberdade e dá espaço à única presunção existente no direito: a de inocência”.
Ao dar entrada no sistema penitenciário, Poze declarou pertencer ao Comando Vermelho. A informação consta de um campo do formulário padrão de entrada nos presídios fluminenses e serve para evitar conflitos internos. A declaração, no entanto, não equivale a uma confissão judicial.
Essa autodeclaração levou à sua transferência para Bangu 3, onde estão concentrados presos ligados ao CV. Questionado, seu advogado minimizou a polêmica e criticou o que chamou de “criminalização seletiva” de determinados gêneros musicais.
“O samba já foi criminalizado, agora é o funk. Estamos diante de uma narrativa que mira a periferia, seus artistas e suas expressões culturais”, declarou Neves, que também representa outros MCs investigados, como Cabelinho e Oruam.
A decisão desta segunda-feira não encerra as investigações, que seguem em andamento. Mas, por ora, Poze do Rodo volta às ruas — com novas obrigações judiciais e uma polêmica que está longe de terminar.