





Em junho de 2007, milhões de holandeses sintonizaram na emissora BNN para assistir a um reality show diferente de tudo que já havia sido exibido na televisão. “De Grote Donorshow” (ou, em português, “O Grande Show de Doadores”) prometia algo impensável: uma mulher terminal escolheria, diante das câmeras, qual entre três pacientes receberia o seu rim. Gente!? Sim, um rim como prêmio. Parece ficção? Mas aconteceu de verdade… ou quase. 4x6r13
O enredo era de arrepiar. Lisa, 37 anos, supostamente com um tumor cerebral incurável, havia decidido doar um dos seus rins ainda em vida. Para isso, ela avaliaria a história de três candidatos reais, todos com doenças renais graves, e escolheria, ao vivo, quem seria o sortudo (ou o mais merecedor) do órgão. O público, é claro, podia ajudar, enviando mensagens de texto para opinar na escolha. A audiência foi estrondosa. E a comoção, imediata.
O que ninguém esperava era o plot twist final: Lisa não era uma paciente terminal. Era uma atriz. E não haveria rim algum. Toda a transmissão foi uma grande encenação, cuidadosamente arquitetada para jogar luz sobre um problema real e urgente: a falta de doadores de órgãos nos Países Baixos.
A revelação aconteceu somente nos minutos finais do programa, pegando todos de surpresa, inclusive críticos ferozes, políticos indignados e entidades médicas que haviam pedido o cancelamento da exibição. Eita!
O escândalo ganhou o mundo. A mídia internacional, incluindo BBC, New York Times e G1, reportou o caso, que foi considerado por muitos como de mau gosto e antiético. No entanto, poucos dias após a exibição, os dados falaram mais alto: mais de 50 mil pessoas solicitaram formulários de doação de órgãos. Em um mês, 7.300 novos doadores foram oficialmente registrados.
Na ocasião, o diretor da Endemol, Paul Römer, justificou para a mídia local: “Jamais faríamos isso de verdade. Mas era preciso colocar a falta de doadores de volta na pauta política".
O programa foi exibido exatamente cinco anos após a morte de Bart de Graaff, fundador da emissora BNN, que ou sete anos na fila de transplante de rim antes de falecer aos 35 anos. A homenagem ao criador da emissora deu ainda mais peso emocional à ação.
Os três candidatos no programa, ao contrário do que muitos pensaram na época, eram reais e sabiam da farsa. Eles toparam participar para dar visibilidade à causa e defenderam a produção após o programa ir ao ar.